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Recolectora de poesias

poesia en portugues

Ao longe, ao luar,

Ao longe, ao luar,
No rio uma vela
Serena a passar,
Que é que me revela?

Não sei, mas meu ser
Tornou-se-me estranho,
E eu sonho sem ver
Os sonhos que tenho.

Que angústia me enlaça?
Que amor não se explica?
É a vela que passa
Na noite que fica.

Fernando Pessoa, 5-08-1921

constructoras do mundo

Construtoras do mundo
Paulo Roberto Gaefke
 
Que as mulheres recebam todos os dias:
Dos maridos e companheiros, mais amor e cumplicidade,
Dos filhos ou sobrinhos, obediência e respeito, eterno carinho.
Dos patrões, igualdade nos salários e funções, dignidade.
Dos políticos, mais atenção e leis justas, mais políticas.
Dos médicos, toque suave, atendimento paciente.
Dos salões de beleza, menos filas e fofocas novas.
Dos restaurantes, menos tentações que fazem engordar.
Dos vizinhos, menos intriga e mais solidariedade.
Dos colegas de trabalho, paciência, principalmente "naqueles dias".
Dos artistas e cantores, atenção e autógrafo sem fila.
Dos vendedores, menos promessas, mais ação.
Das lojas, mais liquidações.
Dos cartões de créditos, mais crédito, de preferência ilimitado.
De Deus, proteção redobrada, pronto atendimento nas orações,
seja no campo ou cidade, chuva de felicidade.
 
Que sobre na vida da mulher:
atenção para amar a todos da casa,
paciência para aturar os homens sem tempo,
beleza para encantar e charme para seduzir,
tempo para amamentar,
tempo para amar e ser feliz,
tempo para ouvir essa pequena declaração de amor,
de homens que sem elas, nem estariam aqui.
Para as construtoras do mundo, um dia só é pouco,
fica então os votos de felicidade eterna,
para quem não desiste de lutar e ser mulher.
 

Um beijo especial para todas às mulheres deste planeta azul.
08 de Março, dia Internacional da Mulher.

Um grande beijo cheio de paz e luz em seu coração

porto grande

Terêncio Anahory
 

Poema para o Meu Irmão Bastardo

Coisas de séculos
de ontem, de hoje e sempre
passam
na voragem do tempo
e em mim fica essa dor
esse desespero,
uma raiva surda
de não poder levar
(nem dado)
(nem pedido)
(nem roubado)
para junto de ti,
meu irmão bastardo,
este mar de sol,
banhar contigo nestas ribeiras
passear estes campos verdes,
árvores verdes
frutos maduros ...
Risos de meninos parvos
meninos cabeçudos;
vida de gente lavada
gente feliz ...
vida, vida!
Por que, — irmão
Por que?

poesia de  cabo verde

Poema para o Meu Irmão Bastardo

Terêncio Anahory
 

Poema para o Meu Irmão Bastardo

Coisas de séculos
de ontem, de hoje e sempre
passam
na voragem do tempo
e em mim fica essa dor
esse desespero,
uma raiva surda
de não poder levar
(nem dado)
(nem pedido)
(nem roubado)
para junto de ti,
meu irmão bastardo,
este mar de sol,
banhar contigo nestas ribeiras
passear estes campos verdes,
árvores verdes
frutos maduros ...
Risos de meninos parvos
meninos cabeçudos;
vida de gente lavada
gente feliz ...
vida, vida!
Por que, — irmão
Por que?

poeta de cabo  verde

uns versos quaisquer

Uns Versos Quaisquer

Vive um momento com saudade dele
Já ao vivê-lo . . .
Barcas vazias, sempre nos impele
Como a um solto cabelo
Um vento para longe, e não sabemos,
Ao viver, que sentimos ou queremos . . .

Demo-nos pois a consciência disto
Como de um lago
Posto em paisagens de torpor mortiço
Sob um céu ermo e vago,
E que nossa consciência de nós seja
Uma cousa que nada já deseja . . .

Assim idênticos à hora toda
Em seu pleno sabor,
Nossa vida será nossa anteboda:
Não nós, mas uma cor,
Um perfume, um meneio de arvoredo,
E a morte não virá nem tarde ou cedo . . .

Porque o que importa é que já nada importe . . .
Nada nos vale
Que se debruce sobre nós a Sorte,
Ou, tênue e longe, cale
Seus gestos . . . Tudo é o mesmo . . . Eis o momento . . .
Sejamo-lo . . . Pra quê o pensamento? . . .
 

11.10.1914

PESSOA

pela rua ja serena

Pela rua já serena

Pela rua já serena 
Vai a noite 
Não sei de que tenho pena, 
Nem se é pena isto que tenho... 

Pobres dos que vão sentindo 
Sem saber do coração! 
Ao longe, cantando e rindo, 
Um grupo vai sem razão... 

E a noite e aquela alegria 
E o que medito a sonhar 
Formam uma alma vazia 
Que paira na orla do ar...  

pessoa poesia inedita  
 

palida a lua permanece

Fernando PessoaPoesias Inéditas

Pálida, a Lua permanece

Pálida, a Lua permanece
No céu que o Sol vai invadir.
Ah, nada interessante esquece.
Saber, pensar - tudo é existir.

Mas pudesse o meu coração
Saber à tona do que eu sou
Que existe sempre a sensação
Ainda quando ela acabou...

LIVRE COMO UN PASSARO

Livre como um Pássaro

Ricardo Kanashiro

Sou livre para ser o que eu quiser...
Posso ir até aonde eu conseguir...
Não importa o que você disser...
Estarei no ar a sorrir.

O caminho não importa...
Desde que alcance o meu destino...
Você pode fechar a porta...
Pois pelo ar estarei saindo.

Como um pássaro estarei a voar...
Não se preocupe, eu hei de voltar.
Livre como o pássaro no ar...
Deixo minha mente se libertar.

Sou livre para escolher...
Não importa se estarei isolado.
Pois sou eu que irei viver...
E sentir o peso do meu fardo.

São tantos os caminhos à escolher...
Mas tenho fé em Deus...
E no amor que tenho em viver.
Portanto, adeus...

Como um pássaro estarei a voar...
E minha alma a flutuar...
Livre como o pássaro no ar...
Deixo a paz me dominar.

Observo o entardecer...
Minhas asas estão a tremer...
O calor a me envolver...
A dor a se dissolver...
A alma adormecer...
Só posso, à Deus, agradecer...
Por poder ver um entardecer...
Pois só agora consigo perceber...
O quanto é bom VIVER.

MAR DE PORTUGAL

 

Mar Português

O mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos,quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador.
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu

PESSOA